Crônicas

A e I; ou:

esquetes/ exercícios 'escritorais'

Antônia, astuta, a afastar abelhas altivas, alertou Adélia, a angelical, ao avistar Altevo apaixonado. Ambas apáticas, antes apreciavam a aurora anêmica, amarelada, anormal, alva, altíssima: amanhecer acolhedor, animado, adorado! Alargou-se a atenção; a alameda aparecia, abria-se, acompanhando as “asas”: albatrozes, animais alados, aves, aviões – alumínio autêntico, atraente – abrandavam a ascensão acertiva: azul. Acima, alusão, altitude. Abaixo, asfalto, Antônia a abraçar Adélia:
— Amanhã, amor, amoras… Agora, amiga, ameixas!

Enquanto espreguiçavam-se, enquadrados em espelho, Eduardo e Erick esvaziavam epopéias e estórias. Esvaiam-se em epígrafes, enlevados em enésimas estrofes. Entre esquinas enlatadas, elucidavam escadas, envelopes, estrelas e elefantes. Estes, em equipes, enganchavam-se. Enlameados, esforçados, educados, esfomeados. Enormes, eles. Ecos escondidos, Eras exclusas. Escusas esperanças? Esclusas.

Inteligente, ímpar, incomparável/ inigualável, imponente, impotente, irreverente, irresistível… Ideal, indivisível, irreconhecível, irritada:
— Infiel!
— Imparcial!
— …Infame!
— …Indulgente!
— …inconsciente!
— …insensata, intransigente!
— …incrível!!

Igualmente inquieta. Ia interagindo, irremediável ilusão.
— Inté!

Interface inteira, indivíduo invenerável, impávido, impenetrável, impecável, imparcial, iminente. Imprescindível, indicariam. Indagações, inconveniências, indecências, ilimitados interrogatórios. Intangível inimaginável, incalculável, irreal: Internet.

Opa, Odila?
— Olívia.
— ok, Olívia. Ouça:
(ouvido opaco. Orquestras operantes, ocultas…)
— Olá?
(outro orifício, obediente)
— Olha, Olívia!
(olhar obscuro, olfuscante).
— Onde?
(olfato observador, onipresente: ondas… outra opção) Ofegante, Olívia, orgulhosa,oscila:
— OSTRAS??
O órfão ofende-se, ouriçado:
— Oi?!

Ossos, ortografia, obrigação, oração. Ontem, oficialmente organizado. Oferta-se o Oggi, orvalho, ocorrência odiada, ocaso objetivo: outro obsceno outono.

Utópico, ubíquo, ultra-humano, usurpador, urgente, ultrafamoso; usado:
— hum….
— útil?
— uhum!
— único?
— hnhum…
— urbano?
— hnhum…
— ultrapassado?
— urbano?
— umbigo?
— Ufa, uh-uh!
— útero?
— ultrassônico?
— Unânime?
— ….universo?
— Uhuul!!!

(…)
— Usuário ulterior:
— Úmido, urbano, útil, uniforme, unidade, umbral:
— UMBRELLA!
— Uau!!

(…)

— Unânime, unidade, universal:


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Bia Mies

BIA MIES é carioca da Serra Fluminense, autointitula-se "do mundo" e reflete em sua escrita um olhar sensível sobre a vida do seu "entremeio": cada crônica torna-se uma interação entre o trivial e a reflexão poética, uma tapeçaria de influências e insights. Tece pontes entre arquitetura, urbanismo, artes visuais e cênicas, moda, leituras, cafés, viagens, família, amores, Zeca (seu fiel companheiro de quatro patas), amigos, Itália e "experiências dos usuários", área na qual atualmente se especializa. Cada percepção transforma-se em texto, numa busca exploratória de pensamentos e emoções, através de uma visão pessoal do cotidiano e do extraordinário. Celebra a beleza da imperfeição e convida o leitor a uma jornada introspectiva, onde cada palavra é cuidadosamente escolhida para ressoar e provocar. Como o sopro das vivências que se entrelaçam pelo seu caminho, Bia Mies homenageia quase duas décadas de exploração literária no Crônicas Cariocas.

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